Olá pessoal!
Fiquei super feliz com a resposta de todos quanto a ideia maluca de falar sobre técnicas de escrita. Sabe o que isso mostra? Que a gente quer aprender! A gente quer melhorar, e só por isso estamos no caminho certo!
Continuando a série de posts sobre estrutura (A parte 1 está aqui, se você perdeu), vimos na publicação passada que toda história tem um início, um meio e o fim, e que nomeamos essas etapas “atos”: Ato I (início), Ato II (meio) e Ato III (fim).
Também vimos que a estrutura dos atos é mais ou menos assim (baseado no esquema da K.M. Weiland, retirado/traduzido/adaptado desse site aqui):
ATO I ( aprox. 25% do seu livro)
1) Mundo Ordinário e/ou Gancho (Hook)
2) personagem, mundo, o que está em jogo
3) O evento incitante (incidente) & evento chave
4) Primeiro Ponto de Transição
ATO II ( aprox. 50%)
5) Primeira parte do Segundo Ato
6) Ponto Central (Midpoint)
7) Segunda parte do Segundo Ato
8) Segundo Ponto de Transição (Plot Point)
ATO III ( aprox. 25%)
9) Clímax
10) Resolução
(seja fechando um ciclo ou colocando um gancho para a continuação.)
Também vimos no post passado que o gancho é o anzol que fisga e prende o leitor à sua história; que o mundo ordinário, os personagens e o conflito devem ser apresentados e que a combinação de todos esses elementos compõem os 25% iniciais da sua obra. Isso entendido, é hora de mover a explicação adiante: é hora de conhecer …
2) O evento incitante & evento chave
O evento incitante é o momento em que seu protagonista é chamado (às vezes arrastado) para a aventura. Este momento deve ocorrer aproximadamente a meio caminho entre o gancho e o primeiro ponto da trama.
Sabemos que todo personagem deve ter um objetivo na história. O que o faz ir inicialmente atrás desse objetivo é um incidente, um evento perturbador da paz que acontece em sua vida e que o obriga a agir. O Incidente (ou evento incitante) é o evento que faz o personagem principal reagir e ir atrás de seus desejos.
Vamos aos exemplos:
a) Jogos Vorazes:
O incidente em JV ocorre quando a irmã de Katniss é escolhida como tributo para os jogos. A gente já tinha tido uma ideia da pobreza em que elas viviam, das dificuldades, da sua relação com a floresta e o Gale. Na hora em que a irmã é chamada, Katniss não hesita em se oferecer como tributo em seu lugar, aceitando assim a sua nova jornada.
b) Orgulho e Preconceito:
O incidente em O&P, segundo K.M Weiland, ocorre quando Lizzie encontra Mr. Darcy no baile de Netherfield e eles tomam imediatamente aversão ao outro.
c) A culpa é das Estrelas.
Em ACEDE, o evento incitante ocorre quando Hazel e Gus estão compartilhando seus livros favoritos e Hazel revela que ela sempre quis falar com Peter Van Houten, o autor do seu livro favorito, provocando assim a aventura da história.
Deu pra entender mais ou menos que seria o evento incitante que a autora fala? Como exemplo das minhas histórias, posso citar o momento em que Pedro vê Bia sentada na editora onde ele trabalha. Aquilo vai desengatilhar todo o drama e trazer o passado à tona, o que é um problemão.
Só que além do evento incitante, a autora fala no site dela sobre um outro momento: o evento chave.
Muitos autores de técnicas de escrita, segundo K.M Weiland, quebram esse evento disparador de mudanças em dois : o evento incitante e o evento chave. Enquanto o evento incitante é o peteleco inicial na cadeia de dominós que disparará os eventos do livro (ex.: uma campainha tocando no meio da noite) o evento chave é o palhaço tenebroso com que você se depara ao abrir a porta, que estende a você um convite onde está escrito: você é o próximo.
O evento chave é o que ejeta o enredo adiante de maneira incontornável. É a sua saída do mundo ordinário, e não raramente, a saída literal de um local pra outro.
Querem exemplos?
a) Orgulho e Preconceito:
Evento incitante: os Bingleys e Mr. Darcy chegam à cidade.
Evento chave: Lizzy é rejeitada por Darcy no baile
b) Guerra nas estrelas:
Evento incitante: Luke compra os androids
Evento chave: os tios de Luke são assassinados, e ele não tem outra opção que não juntar-se à resistência.
c) Gladiador (o filme de Ridley Scott):
Evento incitante: o imperador oferece a coroa a Maximus.
Evento chave: o filho do imperador tenta executar Maximus
Deu para entender? (Eu sei, me parece um certo preciosismo, mas é algo para se pensar, e olhar para a própria história de uma nova maneira. No caso da minha história (continuarei usando o exemplo da Ultima Peça), o evento incitante é quando Pedro vê Bia sentada na sala de espera. O evento chave é a entrevista na qual ele percebe que ela não se lembra dele. Ele conseguiria despachá-la caso ela se lembrasse dele, mas simplesmente não consegue ao perceber que ela o apagou inteiramente das memórias.
O importante é prestar atenção que com esse marco na sua história o mundo antes estático começa a se mover, e as pecinhas da engrenagem a se endentar.
Mas e aí, existe um local específico na história para colocar um evento e outro?
Dê uma olhada no esquema que o site helpinwritersbecomeauthors.combolou:
Crédito: K.M. Weiland, http://www.helpingwritersbecomeauthors.com
O evento incitante (INCITING EVENT) não tem um ponto fixo na história, mas o consenso geral é que ele vem antes do primeiro ponto de transição e depois da introdução (o que leva a mais ou menos 12%) O importante é entender que quanto mais cedo você coloca o evento incitante na história, mais terá tempo de elaborar o evento chave. Lembre-se: se o evento incitante não ocorrer até o ponto de transição (onde termina o primeiro ato), você terá que colocar o evento incitante e o evento chave bem perto um do outro.
4) Primeiro Ponto de Transição
Estamos chegando perto do fim do primeiro ato! É a hora de se aproximar do primeiro ponto de transição.
Ele deve vir aprox. aos 25% do livro, e sua função é MUDAR TUDO.
Baita função, essa!
Esse é o ponto de virada da sua obra. Ele introduz eventos que alteram o curso da história. Ele não precisa ser único, nem gigantesco. Segundo o prof. Massarani, que leciona aulas sobre como escrever roteiros aqui , ele pode ser um simples telefonema no meio da noite, ou mesmo uma campainha tocando (lembram do palhaço?). O fato é que essa cena – essa cena pequenininha ou mesmo grandiosa – disparará alguma coisa importante, aumentará o fogo sob a panela de conflitos e lançará seus personagens para longe de sua zona de conforto.
Resumindo, o ponto de transição é o momento em que o mundo ordinário acaba e o personagem entra em um mundo novo. Encerra-se, ali, a “paz” ou a estática. Depois desse ponto nada mais será como antes.
Ah, e ele marca o fim do primeiro ato. Sabe o que marca o começo do segundo? A reação do personagem a essas mudanças.
Vamos à discussão, por que imagino que a cabeça de vocês esteja estourando, como a minha muiiiitas vezes fica.
Mas Karina, o evento chave e o ponto de transição se parecem muito!
Realmente: mesmo que vários sites tenham explicado a fundo a diferença entre eles (em textos enoooormes!) o que entendi é que estes não são eventos separados em todas as histórias (ali na imagem amarela a autora coloca um e outro como possíveis de serem o mesmo evento). Em muitas histórias eles são uma e única coisa. A explicação que a K.M Weiland dá é a seguinte: O evento chave é a saída do mundo dito normal, e o ponto de transição (que é o fim do primeiro ato) é a entrada no mundo mágico (ou mundo novo, desconhecido).
Veja esses outro exemplo:
a) De Volta para o Futuro
Evento incitante: Doc, o cientista, “desintegra” o cachorro de Marty Macfly e ambos descobrem que ele acabou de inventar uma máquina do tempo. ( Minuto 00:22:42 do filme)
Evento chave: Doc se prepara para viajar para o futuro, mas terroristas líbios chegam procurando vingança e em desespero, Marty acaba fugindo no carro.
Primeiro ponto de transição: Marty chega ao ano de 1955
b) Peter Pan:
Evento incitante: A chegada de Peter Pan
Evento chave: Wendy toma a difícil decisão de deixar o mundo normal (sua casa) e partir com Peter Pan.
Primeiro ponto de transição: Wendy e seus irmãos voam sobre Londres até que finalmente chegam à Terra do Nunca.
E assim termina o primeiro ato!
Calma, não baixem as cortinas ainda! Temos mais dois Atos para estudar!
Espero que o post tenha sido proveitoso! Diz aí: você conhece/reconhece esses pontos nas próprias histórias? Me conta!
Ah, última dica :
“Regras são feitas para serem quebradas, e nunca devemos nos tornar escravos dessas regras. Aprenda a teoria ensinada nas universidades, livros e cursos de escrita, mas aplique seu próprio método e estilo.”
– Prof. Sandro Massarani
Beijos e até a próxima!!