(Perdeu a primeira parte ou a segunda? É só clicar no link)

Cada segmento de uma história tem seus próprios desafios, mas talvez nenhuma deixe escritores mais confusos do que o segundo ato.

Qualquer um que escreva sabe que começos e fins não são fáceis, pelo menos existe uma lista de coisas a fazer, um “checklist” para seguir: no primeiro ato você configura a sua história, no último você a conclui, certo?

Mas se você não estiver configurando e não está concluindo, que raios você está fazendo?  E por que o ato mais confuso precisa ser duas vezes maior que os outros dois?!?

Quem escreve sabe que entre o excitante início e o final apoteótico vem a parte que decide se o leitor continua ou para a história. O longo e (muitas vezes bocejante) segundo ato.

O meio. O miolo. Aquela parte em que a gente coça a cabeça sem muita vontade de escrever, porque nem de longe é tão excitante, alegre ou esperançosa como o primeiro e último ato. É nessa hora que a fabulosa ideia de escrever um livro se torna um pesadelo de proporções angustiantes.

A saída pensada por essa gente maravilhosa que estuda roteiros e enredos para entender esse segundo ato miserável é genial: esmiuçá-lo em partes.

Foi assim que dividiram o “meio” em:

1) a primeira metade do segundo ato

2) o ponto central / o meio do caminho

3) a segunda metade do segundo ato

O post de hoje vai falar sobre a primeira metade do segundo ato, que irá abranger a distância do primeiro ponto de transição, aos 25%, até mais ou menos a metade da história, a marca de 50%.

Preparados? Então vamos lá.

A primeira metade do segundo ato

Segundo K.M Weiland, do site helpingwritersbecomeauthors.com, este é o lugar onde seus personagens encontram o tempo e espaço para reagir ao primeiro grande ponto de virada.

Lembra quando falamos que o primeiro grande ponto da trama forçará o personagem a um ponto de não retorno? Sua vida não terá mais o passo suave que tinha, e ele será forçado a reagir. Se olharmos bem para o primeiro ponto de virada de um livro, percebemos que é a reação do personagem ao evento que muda tudo e cria a nossa história. Mesmo quando o primeiro grande ponto da trama incorpora uma tragédia que altera a vida (como um assassinato de um membro da família, por exemplo) os personagens poderiam dar um jeito de seguir com a vida adiante. Mas é a reação deles (ex.: decidir que agora vai ser um vingador que protege a rua de assassinos) que permite que a cadeia de eventos continue e a história SURJA.

Reação é a primeira palavra chave nesse momento da trama.

O herói/heroína estará tomando medidas, planejando ou chegando ao seu limite. Mas todas as suas ações são uma resposta ao que aconteceu com ele/ela. Ele(a) está tentando recuperar o equilíbrio, descobrir para onde seguir a partir de agora, o que fazer com os eventos que andaram se acumulando. Na sua história, isso pode englobar uma tarde ou muitos anos (Em Ben Hur, por exemplo, ele é forçado a trabalhar como um escravo, depois que é injustamente capturado e condenado no primeiro grande ponto de virada. Isso demora anos na história).

Ben Hur, 2010

A segunda palavra chave para esse momento é…

Objetivo. A menos que seu personagem principal tenha um objetivo muito claro (para você escritor, pelo menos) você achará o segundo ato difícil.

O objetivo precisa ser muito claro. Objetivo é a segunda palavra chave desse ato.

Seu personagem principal precisa estar atrás de alguma coisa, e a maior parte do segundo ato será dedicada à busca do seu personagem por essa meta. Se não há nenhuma meta, não há nada para o seu personagem fazer, certo??

A terceira palavra chave para essa primeira parte do segundo ato é obstáculo. Os obstáculos forçarão a história adiante.

O segundo ato (inteiro) significa obstáculos. Quando o protagonista respira aliviado e pensa: nada pode piorar, as coisas simplesmente …pioram! E ele trava suas lutas, seja elas quais foram, e quando ganha uma batalha…surge a próxima.

Ex.: No primeiro ato a mãe descobre que o bebê que tem nos braços não é o dela (um problemão, certo?) No segundo ato, descobre-se que ele foi trocado por um enfermeira, um anjo enviado para proteger o bebê, que é o novo messias. Agora, o inferno inteiro está atrás do bebê e da mãe (um problema beeeeem maior).

O escritor tirou essa carta da manga, e causou uma agradável surpresa ao leitor (que se vê cada vez mais envolvido com a história.) O obstáculo conseguiu ser ainda maior que a descoberta de que está com o bebê errado, e é essa a intenção. “O público deve se sentir que cada obstáculo é maior e mais difícil do que o anterior, como em um videogame. Na maioria dos jogos, o objetivo é chegar ao nível final e derrotar alguma coisa ou alguém. Cada nível é um “obstáculo” para alcançar esse objetivo. E cada nível o jogo vai ficando mais difícil”, diz K.M Weiland.

⇒ A única advertência aqui é: nada de inventar lances mirabolantes sem sentido só para preencher a história, ok? Toda reviravolta precisa ser coesa e muito bem pensada.

Vamos finalmente aos exemplos?

  1. Caçadores da Arca perdida

Nesse filme, tudo que Indiana Jones tem a fazer é chegar ao Cairo, caminhar disfarçado e procurar a arca. Seu único objetivo é: não é ser pego. Simples, né?

Só que ele é pego.

Não apenas pego, mas enterrado em uma caverna.

Com cobras.

Sua luta é para escapar, e ele escapa. Mas então, o que acontece?  Ele precisa destruir um avião e um bando de nazistas. Um obstáculo muito maior? Claro!

Em seguida, precisa alcançar com a caravana que transporta a Arca e impedi-los, e assim vai até a hora em que acontece o que acontece no final.

Como cada obstáculo é mais difícil, ficamos com a sensação de que estamos construindo uma expectativa em direção a algo. Você acha que alguém abandonaria o filme com as situações ficando piores a cada segundo? Claro que não! O mesmo acontece com o seu livro.

A quarta palavra chave para essa parte do enredo é: desenvolvimento do caráter do personagem.

Desenvolvimento de caráter? Mas não é aqui que tem que ocorrer a ação?

É. Mas isso não quer dizer que não haverá ação, reviravoltas, tiroteios. O maior propósito do segundo ato – até mesmo a função de toda a ação –  é a exploração dos personagens.

Segundo o roteirista de onde tirei essa parte do capítulo (link abaixo), “tudo começa com uma falha do seu personagem – a “falha fatal” – que é vagamente definida como algo que seu personagem vem fazendo a  vida inteira. Um comportamento que vem destruindo seus relacionamentos? Uma profunda dúvida quanto ao seu real valor? A culpa por algo que fez no passado?

Depois de identificar essa falha, você vai criar uma viagem para testá-lo – e ele será testado algumas vezes. Estes testes irão forçar o seu personagem a crescer, o que por sua vez irá aproximar o leitor dele.

Vocês percebem como isso é genial? A ação do seu segundo ato é na verdade a chance de nos apaixonarmos ainda mais pelos personagens! E nos apaixonaremos por ele vendo-os em ação!

Por exemplo, em Matrix, a falha fatal do Neo é não acreditar em si mesmo. Muitas das cenas do segundo ato são voltadas para testar esse problema. O salto do edifício, a visita do Oráculo, a luta no metrô. A cada vez sua falta de crença está sendo testado. E a cada vez, ele passa a acreditar um pouco mais em seus ‘poderes’. Muitas vezes é um personagem secundário que faz a mudança de uma história. Por ex., em Guerra das Estrelas, a falha de Han é que ele é muito egoísta. A falha é testada quando ele e Obi-Wan brigam, quando ele se reluta em salvar a princesa, etc. As melhores histórias são quando todo mundo passa por algum tipo de mudança, e o autor consegue colocar todo mundo para crescer. Então certifique-se de que o seu segundo ato contém uma dose saudável de exploração de personagem, ok?

Espero que tenha ajudado! Que tal seguir-nos no FB, ou comentar ali embaixo o que achou desse modo de estruturar uma história?

(Minha página no FB é @karinaheidr)

Próximo post: O meio/a metade! 

Fonte: http://scriptshadow.blogspot.com.br/2011/07/article-how-to-conquer-your-second-act.html helpingwritersbecomeauthors.com.